Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,e todos estão contentes de se saberem sacanas.Não há mesmo melhor do que uma sacanicepara poder funcionar fraternalmentea humidade de próstata ou das glandulas lacrimais,para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
Dizer-se que é de heróis e santos o país,a ver se se convencem e puxam para cima as calças?Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,porque no país dos sacanas, ninguém pode entenderque a nobreza, a dignidade, a independência, ajustiça, a bondade, etc., etc., sejamoutra coisa que não patifaria de sacanas refinadosa um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?Não, que toda a gente já é pelo menos dois.Como ser-se então nesse país?Não ser-se?Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Sem comentários:
Enviar um comentário