quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A velha aos pés do Poeta


"A meio da Praça, o Poeta e os seus pares estão coroados de pombas e, em baixo, uma velha, pequenina, magrinha, de leque de seda abrto, saia negra a roçar pelo empedrado, chapéu roxo com florinhas amarelas, refila, contra um grupo que a persegue, palavrões e ameaças:
- Corja! Gente de gosto estragado! Hão-de ver o que os espera!
Solta uma breve, brusca gargalhada. Um esgar rangente no rosto sumido, triste até às lágrimas.
- Homens, isto? Pois se vocês agora só conseguem arranjar dessas que andam para aí de pernas todas à mostra! Homens!...
Meneia-se, a abanar o leque, com ademanes de grande dama. Profundo despeito esganiça-lhe a voz:
- Sabem lá o que é uma senhora!...
O grupo cresce, cerca-a de risos assobiados, num gozo alvar de surriada
grotesca.
Em redor há uma implícita conivência. É como se fôssemos todos, a Praça inteira, o Chiado, a cidade a gargalhar atrás da velha, que se volta, arremessa o punho mirrado para fora da manga de rendas esfarrapadas:
- Cobardes! O que vocês todos precisavam era...
Um electrico passa entre a velha e o vagabundo e abafa o resto da frase. De que será que nós todos precisamos?
Acossada, a velha recua. Vindos de um lado e de outro, homens e mulheres aumentam o grupo que a envolve. Estão à vontade, afoitos. Nenhum corre perigo naquilo. Gesticulam, atiram-lhe palavras como se atirassem calhaus, batem patadas no empedrado, incitam-na. E gargalham, desbarrigados. Espectáculo grátis, quem o perde? É aproveitar, encher a pança - vá de rir, vá de encher de gozo esta vida vazia, miserável, bronca.
Corrida, a velha amedronta-se. Na face escura, devastada, os olhos miudinhos, negros, refulgem de aflição:
- Mas que mal, digam lá, que mal lhes fiz eu?
O grupo continua a crescer, quase enche agora a Praça. E os que chegam, perguntam: "Que foi? Que fez ela? É louca? Alguém lhe bateu? Roubou alguma coisa?"
Um policia aproxima-se. Todos desandam. Mas com ar composto. Um ar de quem ia passando e olhou por olhar. Todos vagarosos, fingidamente alheados, sinceramente aborrecidos por tão depressa ter acabado o espectáculo.
A velha parece ainda apontá-los, apontar-nos, apontar a cidade: "Cobardes". E chora de cabeça tombada. Ridícula, nos farrapos coloridos, sujos, chora apagada e triste, aos pés da estátua do Poeta."

Manuel da Fonseca

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Casa dos Segredos



Parece que anda para aí uma "febre" com  a "Casa dos Segredos", só falam nisso, só "postam" sobre isso no Facebook...espero que lhes passe depressa. Da minha parte só tenho a dizer: ainda não vi, não quero ver, não vi o anterior e não gosto desses programas/concursos ou lá o que lhe queiram chamar! É assim tão difícil de perceber?!
Se há quem não goste mas depois vê, sabe-lhe os nomes, lê em jornais e revistas o que se vai passando é lá com eles, mas POR FAVOR, não falem mais no assunto comigo!